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Mostrando postagens de abril, 2012

Ipu

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(do Facebook, 27/8/2011) Creio que foi em 1945, quando o Partido Comunista vivia sua breve experiência de legalidade institucional, ainda sob a ditadura do Estado Novo, que meu avô Hugo Madureira Coelho, funcionário federal, coletor em Encantado e comunista, foi 'agraciado' pelo governo com sua transferência para uma cidadezinha no interior do longínquo estado do Ceará. Ipu, que hoje, 26/8, comemora 171 anos, foi parte incontornável das histórias que escutei na infância. Minha mãe, que lá viveu, com a família, e ao longo de 4 anos, o 'exílio' forçado de meu avô e testemunhou sua militância política, falava com extrema nostalgia e carinho da pequena cidade de sua adolescência, e sonhou em vão em lá retornar até que a doença lhe tomasse a vida em 1989. Durante o Simpósio Nacional da ANPUH, em 2009, aluguei um carro em Fortaleza e atravessei meio estado para visitar a cidade da saga familiar que conhecera nos relatos de casa. Encontrei, além de uma população gentil e

Consejos para los historiadores del futuro

Último parágafo do ensaio "Cosecharás tu siembra. Notas sobre la rebelión popular argentina de deciembre 2001", de Raúl Fradkin. (Para mim talvez o melhor texto interpretativo sobre os acontecimentos do final de 2001 na Argentina, e uma amostra contundente de como um bom historiador do mundo colonial e da independência pode produzir uma história do presente de muita qualidade, sem atalhos ou simplificações) "La crisis desconcierta a los analistas y entre ellos a los historiadores sin tiempo para mensurar y pesar las evidencias. Por ello, quizás, los humoristas se presentan como más agudos y penetrantes analistas sociales. Con sublime capacidad de análisis y con clarividencia anticipatoria Rudy y Paz expresaron desde la primera plana de Página 12 del miércoles 12 de diciembre la clave de la política argentina del momento: "De la Rua dice que, desde que asumió, se la pasa apagando incendios; Si... con nafta [gasolina]". Desde la contratapa, Auxilio, el pers

China Comunista, por Santiago

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Tese

(Publicado originalmente em 16 de Abril de 2008) Ainda não li a tese, mas dei uma espiada nos dois breves capítulos iniciais do doutoramento de Valeria D'Agostino, defendido em Tandil no final de março e que tem como título "Estado y Propriedad de la tierra. Instituciones, derechos, leyes y actores sociales. El caso de los partidos de Arenales y Ayacucho (provincia de Buenos Aires, Argentina), 1824-1904". D'Agostino, que foi a primeira das Valerias tandilenses que passaram por São Leopoldo a defender sua tese, bebe nessa fortíssima tradição argentina de historiadores agrários. Os dois capítulos iniciais são um primor de síntese historiográfica e clareza metodológica, e proporcionam um rápido mergulho do leitor estrangeiro nos argumentos centrais da tradição intelectual da área. Eu sempre aprecio este tipo de coisa, essa capacidade de dizer apenas o que realmente importa. Assisti na École, lá pelos idos de 1992 ou 1993, uma argüição realizada por Marcel

Molina Campos

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("Pa' nuevos horizontes", mural de Florencio MOLINA CAMPOS na Estação Constitución, Linha C do metro de Buenos Aires)

Fernando Pessoa, Pierre Bourdieu e a noção de habitus

Do blog do Adriano Codato http://adrianocodato.blogspot.com/2011/03/fernando-pessoa-pierre-bourdieu-e-nocao.html (publicado originalmente em 9 de março de 2011) um amigo comentou: "acho mesmo que Bourdieu poderia escrever um livro sobre essa passagem de Fernando Pessoa, começando assim: 'tudo o que eu tenho a dizer sobre o conceito de habitus está condensado na passagem abaixo'...". Bingo. Fernando Pessoa, Nota solta atribuída ao Barão de Teive. In: Obra poética . Volume único. Nova Aguillar, p. 57-58. “O que particularmente me indignava contra mim, nesses momentos de dúvida dolorosa, em que eu sabia muito antes que a solução seria nenhuma, era a intromissão do fator social no jogo desequilibrado de minhas decisões. Nunca pude dominar o influxo da hereditariedade e da educação infantil. Pude sempre repugnar os conceitos estéreis de fidalguia e de posição social; nunca os pude esquecer. São em mim como uma cobardia, que detesto, contra a qual me revolto, mas que

Gombrowicz e outros exilados

(Publicado originalmente em 14 de Abril de 2008) Quem primeiro me falou de Witold Gombrowicz foi Marta Petrusewicz, por ocasião de uma encontro de história comparada, em Tandil, em 2004. Polonesa, meio italiana, ensinando em Nova York, cidadã do mundo, Marta é uma dessas pessoas que te fazem ter fé na vida intelectual e nas eventuais surpresas que ela pode nos oferecer, apesar de tudo e de todos que aporrinham a nossa existência nas universidades. Brilhante e bem humorada - características raramente percebidas juntas na profissão, Marta falava com paixão de Gombrowicz e se perguntava, admirada, como eu poderia não conhecer Ferdydurke. "Não Marta, não conheço Ferdydurke, lo siento " [mas comprei o livro, dois dias depois, sofrendo um pouco para lê-lo, denso, numa tradução castellana do próprio autor, homem de vários idiomas]. Gombrowicz, tal como sua compatriota, deixara sua Polônia natal e se havia lançado pelo mundo, no caso Buenos Aires, onde viveu por quase q

O rio sem margens

A primeira vez que vi o escritor argentino Juan José Saer foi num programa sobre literatura na TV francesa, na primeira metade dos anos 90. Professor de literatura na Universidade de Rennes havia anos vivendo na França, Saer criticou, dura e solitariamente, uma elogiadíssima exposição das esculturas "gordinhas" de Botero ao longo dos Champs-Élysées, acusando apresentador e público (leia-se intelectuais) franceses de fazerem uma apreciação "complacente", por uma decisão ideológica e política (de simpatia e solidariedade à América Latina e a seus artistas) e não estética, das obras em questão. O sujeito me cativou na hora! Ele era antítese dos clichês literários sobre a América Latina. Nada de sair exaltando algum particularismo mágico e indecifrável, nada de se refugiar no misticismo, mas sim a busca da reafirmação do universal no trabalho do artista. Na época, li a tradução francesa de El río sin orillas, Le fleuve sans rives , um belo ensaio-viagem, ao mesmo tempo 

Tornar-se mandarim: os exames imperiais

Antes da metade do século XIX, o sistema chinês de ensino superior incluía os “clássicos” (jing), a história (shi), a filosofia (zi) e a literatura (ji) como as principais categorias do conhecimento autorizado, ao passo que matérias relacionadas a ciências naturais ou tecnologia científica eram desprezadas como “habilidades mágicas e inteligência imprópria” (qiji yinqiao). Apesar de a matemática c hinesa ter se desenvolvido tão cedo quanto a grega, o conhecimento matemático foi sempre uma arte menor e não um conhecimento válido para um funcionário-letrado possuir. A educação possuía uma associação íntima com o sistema de serviço público, o que significa que os programas em escolas em quaisquer níveis eram determinados pelo conteúdo desses exames. Matemática e outras áreas tecnológicas do conhecimento não eram vistas como campos importantes de estudo naquele sistema curricular. Nas dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1911), a educação, mesmo no nível mais rudimentar, estava relaci

A distinção ou Bourdieu aplicado ao estudo do mandarinato chinês

"Há uma noção que, segundo Jean-François Billeter, desempenharia um “papel fundamental no pensamento mandarinal”: é aquela da “vulgaridade” (su), que permite distinguir o homem superior de todo o resto, e, portanto, o mandarim do vendedor ou de qualquer outra pessoa ignorante e engajada na busca do lucro. Ora, este termo, su, é constantemente usado para marcar a distinção no próprio seio do manda rinato: distinção entre a inspiração elevada do “funcionário confuciano” e o pragmatismo do funcionário eficaz, mas “ordinário” (uma das traduções de "su"), entre o engajamento idealista e o carreirismo ou a indiferença, entre a integridade altiva e a obsessão do lucro, e assim por diante. E também, em um plano mais mundano, mas não menos importante, entre aqueles que têm maneiras e aqueles que não as têm. O que eu chamo aqui de maneiras é toda a coreografia social e mesmo corporal (diz-se, em geral, a etiqueta) consignada nos manuais de ritual, mas que as pessoas bem-nascidas

Patagônia

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(Publicado originalmente em 10 de maio de 2008) "Il n'y a plus que la Patagonie, la Patagonie, qui convienne à mon imense tristesse" , o verso de Blaise Cendrars, em epígrafe do livro de Bruce Chatwin ( Na Patagônia , Cia. das Letras, 1988), lido por toda uma geração de viajantes imaginários no final da década de 80, traduz bem a idéia de desolação, dos grandes espaços vazios, da melancolia profunda associada a esse território-mito. Planejada para ser explorada de motocicleta ou a bordo de um jipe Toyota Bandeirante, a Patagônia foi, na verdade, na maior parte das vezes percorrida apenas na imaginação de adolescentes e de outros mais crescidos. De minha parte, ando por lá numa Yamaha Ténéré 600, que nunca comprei, desde essa época! Dos dias 19 a 21 de maio, Susana Bandieri, da Universidad Nacional del Comahue (UNCo), grande especialista argentina nos estudos sobre fronteira e região, irá ministrar, no PPGH Unisinos, no quado do programa CAPG-Capes-SPU, o cu

Sentença

"El problema es que nosotros, los latinoamericanos, solemos actuar a contrapelo con respecto a la historia". Jorge Edwards, 2006. Fonte: http://www.almendron.com/tribuna/6373/la-exclamacion-de-arguedas/