Gombrowicz e outros exilados

(Publicado originalmente em 14 de Abril de 2008)

Quem primeiro me falou de Witold Gombrowicz foi Marta Petrusewicz, por ocasião de uma encontro de história comparada, em Tandil, em 2004. Polonesa, meio italiana, ensinando em Nova York, cidadã do mundo, Marta é uma dessas pessoas que te fazem ter fé na vida intelectual e nas eventuais surpresas que ela pode nos oferecer, apesar de tudo e de todos que aporrinham a nossa existência nas universidades. Brilhante e bem humorada - características raramente percebidas juntas na profissão, Marta falava com paixão de Gombrowicz e se perguntava, admirada, como eu poderia não conhecer Ferdydurke. "Não Marta, não conheço Ferdydurke, lo siento" [mas comprei o livro, dois dias depois, sofrendo um pouco para lê-lo, denso, numa tradução castellana do próprio autor, homem de vários idiomas].
Gombrowicz, tal como sua compatriota, deixara sua Polônia natal e se havia lançado pelo mundo, no caso Buenos Aires, onde viveu por quase quarenta anos do jornalismo e da literatura. Num destes raros casos de perfeito timing político-existencial, partira da Polônia em 1939, poucos meses antes da invasão alemã e do desabamento da tormenta sobre a Europa central. Marta falava de Gombrowicz e de Bruno Schulz (de Sanatório Klepsidra e Lojas de Canela); eu do interesse que me despertara a leitura do ensaio de Claudio Magris, Danúbio, das memórias de Zweig (O Mundo de Ontem - memórias de um europeu) e, sobretudo, de meu autor preferido, Joseph Roth, autor da Marcha de Radeztky, Pesos e Medidas e da Cripta dos Capuchinhos, um intelectual atormentado que encarnou o desespero dos homens de idéias e a melancolia nostálgica pela Europa que acabara em 1914.

PS: encontrei em Bs.As. duas pequenas jóias (e, como tal, caras, cotadas em euros...) de Roth, a pequena novela El busto del Emperador e uma série de artigos sobre a vida e a diáspora intelectual centro-européia ante o 3° Reich, La filial del inferno en la Tierra, ambos publicados pelo editorial Acantillado, de Barcelona.

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