Ipu

(do Facebook, 27/8/2011)

Creio que foi em 1945, quando o Partido Comunista vivia sua breve experiência de legalidade institucional, ainda sob a ditadura do Estado Novo, que meu avô Hugo Madureira Coelho, funcionário federal, coletor em Encantado e comunista, foi 'agraciado' pelo governo com sua transferência para uma cidadezinha no interior do longínquo estado do Ceará. Ipu, que hoje, 26/8, comemora 171 anos, foi parte incontornável das histórias que escutei na infância. Minha mãe, que lá viveu, com a família, e ao longo de 4 anos, o 'exílio' forçado de meu avô e testemunhou sua militância política, falava com extrema nostalgia e carinho da pequena cidade de sua adolescência, e sonhou em vão em lá retornar até que a doença lhe tomasse a vida em 1989. Durante o Simpósio Nacional da ANPUH, em 2009, aluguei um carro em Fortaleza e atravessei meio estado para visitar a cidade da saga familiar que conhecera nos relatos de casa. Encontrei, além de uma população gentil e acolhedora (o que minha mãe nunca deixara de referir), de uma arquitetura fascinante da era de ouro do algodão e da surpreendentemente viva memória da passagem de meu avô por lá, uma paisagem deslumbrante que em nada lembrava os clichês que o Brasil do sul faz do interior do Nordeste. Fui visitar Ipu para fazer a viagem que minha velha não pudera fazer, e me emocionei com o que encontrei. Na internet há um texto de Petrônio Lima, jovem historiador do Ipu, sobre meu avô e o enfrentamento que teve com o padre local, num episódio de impressionante ódio ideológico (e sobre o qual escutei relatos desde a mais tenra infância) que foi o apedrejamento da sede da Liga dos Trabalhadores do Ipu, que meu avô ajudara a fundar, em novembro de 1946. A quem se interessar, o link do texto do Petrônio é http://profpetrniolima.blogspot.com/2010/07/preces-gritos-e-terror.html


Ao bom povo do interior do Ceará, que um dia acolheu os Madureira, todo o meu carinho e agradecimento.

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