O maior vencedor da Farroupilha

(a partir de uma postagem no Facebook, 20/9/2011)

Aprecio muitas das tradições do Rio Grande, evocações do passado que são as de muitos e também as minhas, aquelas de que aprendi a gostar, ou que naturalmente incorporei, muito cedo, aprendendo a preparar o mate com minha tia, ouvindo meu pai escutar a voz calma e musicada de Jayme Caetano Braun no rádio, assistindo com ele ao desfile dos "gaúchos", no 20 de Setembro, visitando anualmente meus tios no campo, em São Gabriel, ou seguindo, já adolescente, os passos da conversão de meu primo mais velho ao nativismo musical das Califórnias e Cirandas da Canção. Todos estes signos de um pertencimento cultural particular nunca me foram desconfortáveis, ao contrário. Contudo, a apropriação e a malversação histórica operada pelo tradicionalismo oficialista no Rio Grande do Sul, nas últimas décadas, na construção de uma doxa cultural regional - e embaladas por um eficientíssimo "regionalismo publicitário" (Zaffari, Banrisul) que, a cada ano, nos massacra com a exposição repetida e prolongada da inesgotável crônica de nossos feitos e virtudes -, me é simplesmente insuportável.
Entre o fascínio do desfile dos orgulhosos "gaúchos" a que assistia na infância, e a espetacularização do 20 de Setembro atual, com os excesssos do discurso chauvinista e o 'apagamento' circunstancial do passado "brasileiro" do Rio Grande, a deriva ideológica é imensa. Em especial, irrita a persistente ignorância sobre o passado 'imperialista' (leal ao império, à Corte) de parte expressiva da população do RS sob a Farroupilha.
Sem querer deliberadamente afrontar os mitos regionalistas atualmente em voga, mas já o fazendo, reproduzo a foto de Sua Majestade Imperial, Defensor perpétuo do Brasil, Pedro II, fotografado por Luigi Terragno em trajes regionais, em Porto Alegre, 1865, quando de sua passagem pela capital da província rumo ao encontro das tropas, em Uruguaiana.

PS: infelizmente não sei mais de onde fiz download desta foto, agradeceria se alguém me ajudasse a encontrar a possível fonte.
PS2: de um quadro (tapeçaria?), afixado na parede da sala de jantar da casa de tio Arthur, em Tramandaí, onde Laís me ensinou a tomar chimarrão, uma lembrança poética de minha infância que não me abandonou um só dia desde então: "Amargo doce que eu sorvo/ num beijo em lábios de prata/ tens o perfume da mata/ molhada pelo sereno/ e a cuia, seio moreno/ que passa de mão em mão/ traduz no meu chimarrão/ em sua simplicidade/ a velha hospitalidade/ da gente do meu rincão" Glaucus Saraiva  

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